terça-feira, 14 de agosto de 2018


UM HORRÍVEL ASSASSINATO

Eu estava no quintal,
“Pá... pá... pá...” ouvi três tiros;
Apois foi! Nesse momento
Tomei um forte suspiro.
Entrei pra dentro de casa,
E fui direto pra sala,
E subi para a janela.
Armaria! Deuzulive!
Nunca vi cena tão triste
Pavorosa como aquela.

Quando subi pra janela,
Vi um homem ensanguentado;
Ele tava numa esquina,
E ainda em pé, coitado!
Mas, dali não se movia,
E eu todo tempo via
Seu corpo todo vermelho;
Segundo eu ouvi falar,
Ele sofreu isso lá
Porque não tomou conselho.

Mesmo ainda estando em pé,
Não conseguia andar;
E o assassino, carregando
Outros tiros pra lhe dar.
A rua estava repleta
De pessoas nas janelas
Olhando pr’aquela ação;
Uma cruel cena forte
Preparada pela morte;
Que triste situação!

Ora, isso aconteceu
Em Exu, minha cidade.
Nesse tempo eu tinha cerca
De dez anos de idade.
Apois é... tal cena vendo,
Fiquei todo me tremendo
Atrepado na janela
Vendo a vítima agonizando,
Sua blusa levantando,
Mostrando suas costelas.

Ao levantar sua blusa,
Aquele pobre coitado
Parecia até mostrar
Que não andava armado.
Preparando a sua arma,
O assassino a carregava,
Tava pouco milixando.
E a vítima ali, então,
Logo arriou no chão
E ficou agonizando.

Vendo a vítima se mexendo,
Rolando ali pelo chão,
O assassino disse ao outro:
“Ele inda num morreu, não!”
Com a sua arma em punho,
Pensou: “Quer mais? eu acunho!
Peraí, seu condenado!”.
E, com sua arma na mão,
Caminhou em direção
Àquele pobre coitado

Armaria! Todo mundo
Ficou de olhos grelados
Vendo o assassino ir
Pra onde estava o condenado.
Pá, pá, pá, pá, pá, pá, pá,
Pá, pá, pá, pá, pá, pá, pá...
Mandou bala foi sem dó!
Caminhando e dando giros,
Deu cerca de quinze tiros
Volteando ao seu redor.

Misericórdia! Uma cena
De partir o coração.
Minha mãe saiu da porta
Sentindo forte emoção:
--Armaria! Deus do Céu!
Coisa triste... Ô, Manel,
Me dá um pouquinho d’água!
--Ôxe, Ontonha! Pra que tão...?
Pricisa isso tudo, não!
Péra, home! Vamo tê calma!

Depois de fazer aquilo,
O homicida sumiu;
E, bem ao redor do corpo
O povo se reuniu;
Um bando de curioso,
Tudo em pé olhando o corpo,
Mas, pra que tudo aquilo?
Ensanguentado e crivado,
Mas, e a multidão ao lado?
Tava era achando bonito

Eu, olhando da janela,
Vi chegar a mãe do morto;
Ela fez um choro amargo
Ali pertinho do corpo.
Ela chorava em pé
Vendo o quanto triste é
Passar por aquele fel;
Com seu triste amargor,
Em pé lamentava a dor,
Levantando as mãos pro céu.

De surpresa aparecendo
A viatura policial,
Bem depressa os curiosos
Se sumiram do local;
Tão depressa aquele povo
Se afastou dali do corpo,
Por ter medo da polícia,
Igualzinho a um bando brabo
De urubus espantados,
Quando sai duma carniça.

A mulher do homem morto
Também lamentava muito;
No velório debruçou-se
Bem no seio do defunto.
Testemunha um tanto sou;
Cada cena que passou,
Inda hoje as contemplo:
Das cenas, quando recordo,
Logo sinto que me torno
Um viajante do tempo.            30/12/2014



sábado, 27 de janeiro de 2018

Suspeita de Propina

SUSPEITA DE PROPINA

Que coisinha preta é essa
Que tu tem aí na mão?
Eu fiquei disconfiado
Daquela tua ação!
Eu tava entregano o queijo,
E de repente te vejo...
Ih! Qual é a tua, meu?
Eu num tou acreditano!
Quando eu tava entregano,
Tu tava filmano eu?

-- Na verdade lhe filmei,
Mas não a você somente:
Filmei os policiais,
Que são os incompetentes.
Se você não é culpado,
Por que você fica bravo?
Por acaso é sua a culpa?
O queijo que lá é dado,
Por acaso é comprado,
Ou por dispensa de multa?

-- Na verdade é comprado;
O queijo não é propina.
E esse chaveiro seu
Tem câmera aqui em cima.
Com isso eu me irrito,
Pois eu nunca admito,
De você muito duvido.
E seu cartão de memória,
Só devolvo nôta hora,
Quando eu apagar o vídeo.

-- Mas tomar-me o meu cartão
É total besteira sua.
Você se caga de medo
Da verdade nua e crua.
Devia ter mo pedido.
Com seu jeito atrevido
De pegar o meu cartão,
Já me prova o teu medo
Que aquela entrega de queijo
É propina de montão!

-- Se você já me filmou,
É provável de me culpe
Consultando a Internet,
Pra colocar no Youtube.
Além disso, desconfio
Que fará outro desvio
E dará cópia pros outros.
Se alguém por advogado,
Eu é que fico arrombado.
Você pensa que sou bobo?

-- Colocar na Internet
Não era bem o meu plano;
E, mesmo que eu colocasse,
Quem sairia se ferrando?
Além disso, se eu ainda
Acusasse de propina
Aqueles queijinhos dados,
A justiça me puniria,
Pra cadeia eu mesmo iria,
Se não desse por provado.

--Eu sei, mas, faça isso, não!
Desse jeito eu me complico.
Que seja propina ou não,
Tenho culpa, meu amigo?
Se a justiça souber,
Eu também me ferro, né?
Pense nisso, meu irmão!
Se quiser filmar a outro,
Pode filmar, eu tou pouco...
Só que a mim, não! Eu não!

--Meu amigo, tenha calma!
Dê-me meu cartão de volta!
Não vou pôr na Internet;
Deixe de medo e revolta!
--E eu vou me confiar?
Você vai é ispaiá
Pro povo ver minha cara!
--Eu num vou ispaiá, não!
Então me dê meu cartão!
--Não vou le entregar nada!

--Leandro, deixa pra lá... (minha irmã)
Esquece isso, vai! Vambora!
Ele tomou o cartão?
Parece ser dele agora.
--Não é meu não, mas eu pego,
E agora eu não entrego.
Pois quem mandou me filmar?
--Quer saber? Engula isso!
Pra que esse reboliço?
Quer o cartão? Pode socar...!

Ora, besteira da porra!
Pegue essa bosta e te mete!
Meu irmão jamais vai pôr
Essa bosta na Internet.
--Num vai, não?! Tu me garante?
Foi melhor eu tomar antes,
Sua besta; vai, te toca!
--Pois já que você tomou,
Pouco me lixando tou;
Besta é tu, seu idiota!

--Mas home, pra que filmar? (motorista)
Pois com isso a gente finda...
Melhor não divulgar isso;
Com justiça não se brinca!
--Quem brinca com a justiça (eu)
É quem pratica ou atiça
Ou tenta encobrir um crime.
Quanto ao que há no vídeo,
Nem temo e também duvido
Que alguém me incrimine.

Obs.: poema baseado em fato ocorrido no Crato-CE.