sábado, 22 de abril de 2017

Putarias da Minha Infância

EITA, MEDO DE INJEÇÃO!

Foi no Crato, Ceará,
No Hospital Monsenhor Rocha;
Quem lembra do que passei,
De mim hoje inda debocha.
Com dez anos de idade,
Sofri tão calamidade
Gritando que nem um cão:
Pra poder ficar curado,
Todo dia era furado,
Eita, medo de injeção!

No primeiro dia ali,
Tomei injeção de noite.
Pense num moído grande!
Cada pulo, cada coice!
Minha mãe mais se irava,
No colo me segurava,
Eu sentindo o beliscão.
Mãe dizia: “Bicho frouxo!”
Me matava de arrocho,
Eita, medo de injeção!

Eu fui dormir revoltado
Por não poder me vingar;
Pensando no outro dia,
Noutra injeção pra me dar.
Então, bem de manhã cedo,
Eu me acordei com medo
Pensando no agulhão;
Todo tempo na espreita
Pensando comigo: “Eita!”,
Eita, medo de injeção!
  
Sempre antes do café,
Eu levava uma furada;
Antes do almoço e janta,
Eram mais duas picadas.
Eu não queria acordo,
Volteava que nem doido,
Fazia qualquer ação
Para tentar me livrar,
Pra não deixar me furar,
Eita, medo de injeção!

Aquele hospital, pra mim,
Era uma coisa trágica;
Pra mim era um presídio
Forte em segurança máxima.
Todo tempo eu triste era
Pra mim eu só via feras:
Enfermeiras de plantão.
Ai, meu Deus, que coisa horrível!
Cada cômodo era temível,
Eita, medo de injeção!

Cada injeção que eu tomava,
Fazia o pior chamego;
Como um boi sendo capado,
Eita, coices! Eita, medo!
Depois da furada ardendo,
Eu fingia estar morrendo,
Pra me vingar na “prisão”.
Vixe! Tortura infernal;
Cada vez passando mal,
Eita, medo de injeção!
  
De madrugada, assombrado,
Mal conseguia dormir
Com medo que as enfermeiras
Viessem comigo bulir.
Cada susto eu levava!...
Dormia, me acordava;
Que triste situação!
Cada momento era duro,
Eu só vivia em ar puro;
Eita, medo de injeção!

Os choros doutras crianças
Tomando injeção eu via;
Esperando a minha vez,
Chega a bundinha tremia!
Não havia escapatório:
Como um bode expiatório
Levado à condenação,
Eu dava coice, pulava,
Dava patada e gritava;
Eita, medo de injeção!

Comia sem apetite,
Ora, eu cada vez morria;
Grande saudade de casa,
Chega a lágrima corria.
Com nada eu me alegrava,
Pois a tristeza era brava
De partir o coração;
De tanto ser molestado
Pelas injeções, coitado;
Eita, medo de injeção!

                                         06/03/2015


DEPOIS DE QUEBRAR UM BRAÇO...

Para minha mãe eu disse
Com a cara de santa puta:
“Quebrei o ‘bracim’, mainha!”
Foi outro dia de luta.
Ela disse: “Aí! Tá vendo?
Eu sempre te recomendo
Prevendo tal embaraço”.
Mas já era muito tarde
E fiz o maior alarde
Depois de quebrar um braço.

Grande galo levantou-se
Entre o antebraço e mão;
Minha mãe me disse: “Aí!
Eu sempre te avisei, não?”
O meu corpo desmaiou,
Grande galo levantou:
Na junta grande inchaço.
Eu fiquei quase apagando,
Cada vez agonizando
Depois de quebrar um braço.

Eita, baita dor da gota!
Só sabe quem já provou.
Mãe disse: “Inda vai pular?”
“Nunca mais vou, mãe, não vou!”
Ela disse: “Agora aprenda!
Doutra vez cê me atenda,
Agora caiu no laço”.
E assim fiquei bem triste
Vendo no quanto consiste
Depois de quebrar um braço.
  
Feito um idiota eu disse:
“Não sei como eu quebrei”
“Ora essa... Cê quebrou
Na junta, eu te avisei!
Eu te avisei, meu fi,
Assim mesmo eu me confie...
Você teimou feito o diacho.”
E, de dor quase que morro,      
Fui pra o pronto socorro
Depois de quebrar um braço.

Chorando, eu torcia o braço
Pra tirar os raios xis;
O funcionário zomba
Olhando pra mim e diz:
“Vai fi duma mãe, manhoso!
Doutra vez tu vai de novo
Se trepar que nem macaco?”
E, de cara bem tristonha
Passei muito foi vergonha
Depois de quebrar um braço.

Em fim, enfeixado o braço;
Eita, baita dia puto!
Depois fomos pra cidade
De Ouricuri-Pernambuco.
Entramos na ambulância,
Eu sempre sentindo a ânsia
Pra ver meu braço engessado
E parar de sentir dor;
Deuzulive, que horror
Depois de quebrar um braço!
  
Passei uma tarde inteira
Esperando atendimento;
A dor diminuiu mais,
Mas inda dava tormento.
Lá pelas dezoito horas,
Depois de esperar lá fora,
Finalmente fui chamado,
Todo momento lembrando
Quanto eu tava me arrombando
Depois de quebrar um braço.

Sozinho dentro da sala,
Vi um garotin chorando;
Ele tomava injeção,
E eu de medo me cagando!
Pensei: eita, o dotô vem
Aplicar em mim também,
Tou é frito, tou lascado!
Eita, dia de aflição,
Eita, medo de injeção
Depois de quebrar um braço!

A enfermeira veio a mim
Aplicar em mim um soro;
Quando senti a furada,
Eu me derreti no choro.
Mãe ouviu meu reboliço:
“Leando, para cum isso,
Bicho fresco, seja um macho!”
Depois de tanta emoção,
Tive a última aflição
Depois de quebrar um braço.
  
Sentado ali na cadeira,
Comecei a sentir sono;
Fechava o zói, despertava,
Só que cada vez mais zonzo.
Depois de uns três minutos,
Tempo mais ou menos curto,
Me pegaram no regaço
Pra me levar numa maca,
Outra ação que me marca
Depois de quebrar um braço.

Após o braço engessado,
Na maca me carregavam;
Forte leseira eu sentia,
Chega o zói se embriagavam.
Eita, sono véi da praga!
Pareceu cachaça braba
Que eu tivesse tomado.
E assim também confesso
Que foi mais outro processo
Depois de quebrar um braço.

Após dormir muito tempo,
Na cama eu me acordei;
Vi que eu tava num quarto,
Cada vez mais despertei.
Eu via tudo rodando,
E mãe comigo falando:
“Tá vendo aí que arraso?
Tu ainda aguentaria
Passar tanta putaria
Depois de quebrar um braço?”
  
Ali na cama, esperando
A anestesia passar,
Mãe conversava comigo,
E eu todo a me alegrar.
Eu conversava exibido,
Parecia ter bebido,
Enxerido no pedaço;
Não sabia o que dizia,
Só conversava ingrisia
Depois de engessado o braço.

Depois que o “porre” acabou,
Do hospital eu saí;
Só que saí caminhando
Inda tonto, pense aí!
O motorista chamou,
Minha mãe o reclamou
Me vendo bambo nos passos;
Eita, fuzuê da gota!
Nunca mais eu faço ôta
Depois de quebrar um braço.

                                                   08/03/2015

Ê, CACETE DE AGULHA!

Eu pisei em um espinho,
Isso custou muito caro;
O que aconteceu comigo
Foi até um caso raro.
Sempre andava eu, coitado,
Com o calcanhar levantado,
Vergonha de andar na rua.
Ih! A bolha que cresceu...
Vixe! O que aconteceu...
Ê, cacete de agulha!

Na sala de curativo
Fiquei quietinho, sentado;
Eu fiquei imaginando...
Preocupado, espantado!
Ih! Lá vinha a enfermeira!
Eu fiquei duma maneira...
Ora a coisa ali foi dura;
Fiz um grande labacé
Pra não furarem meu pé,
Ê, cacete de agulha!

Ao ver aquela agulhona,
Fiquei brabo feito um touro:
A agulha era do tipo
Das de se costurar couro!
Ao começar o moído,
Fiz um grande alarido,
Foi um grande empurra, empurra;
Três homens me segurava,
A enfermeira me furava,
Ê, cacete de agulha!
  
Ela puxava o couro
Com a agulha e o rompia;
Eu gritava e pensava:
Agora a macaca pia!
Meus lábios já tavam roxos,
E os homens: “Dessê frouxo!”
E eu, cada vez com fúria;
Minha mãe, vendo eu gritando,
Ficava só me olhando.
Ê, cacete de agulha!

Pra tirar o carnicão,
Deixei o prédio agitado;
Eu gritava feito um porco
Quanto tá sendo capado.
Fazia cócega, doía,
Berrava, o suor descia,
E os homens: “Fura, fura!”
Eita, enfermeira malvada,
Bixiga da mão pesada,
Ê, acete de agulha!

E aí, você também
Gosta de andar descalço?
Pra quem gosta é prazeroso,
Mas olhe não pise em falso!
O que aconteceu comigo
Pode te pegar, amigo;
Cuidado com tal borbulha!
O solo é contaminado
E, se tu for espinhado,
Ê, cacete de agulha!

                                         09/03/2015

Ê, CACETE DE ALICATE!

1Certa vez fui ao dentista;    ( 1eu tinha 6 anos de idade)
Dente doendo e furado.
Eu estava ansioso
Pra ver meu dente tirado.
Eu me sentei na poltrona,
Ih! Lá vinha a seringona!
Forte meu coração bate.
Aplicando a anestesia,
Começou a putaria,
Ê, cacete de alicate!

O cacete de agulha
Foi o primeiro a *comer;
Quanto mais furava o dente,
Mais eu ficava a gemer.         (*Olhe se tem mente suja!)
Aplicada a anestesia,
Passou uma pasta fria,
Tipo queima, esfria, arde.
Após bem cinco minutos,
Chegou o momento bruto,
Ê, cacete de Alicate!

O dente tava inflamado,
Sofreu pouca anestesia;
Mas o dentista tentou
Pra ver o que aconteceria.
O alicate ele pegou,
No meu dente ele o cravou,
Quase que ao dente parte!
Comecei a sentir dor,
Comecei o chororô,
Ê, cacete de alicate!

“Ai, ai, ai, ai, ai, ai, ai...
Não, não, não... Dor da mulesta!
Num é pra arrancar, não,
Desse jeito assim num presta!”
Era isso que eu pensava,
Só que eu nada falava.
“Para, dotô, não me mate!”
O dente ele amolegava,
Cada vez eu me cagava,
Ê, cacete de alicate!

O dotô parou o serviço,
Passou mais uma pastinha;
Disse-me: “Ó, demore um pouco:
Mais uma anestesiinha!”
Depois de uns três minutos,
Com meu fôlego ainda curto,
Lá vem outra, meu cumpade!
Molestava o dente queiro,
Ai, meu Deus, que desespero,
Ê, cacete de alicate!

Eu me esperneava todo,
Jorrava sangue da boca!
Ê... Moído demorado!
Minha voz já tava rouca.
Passou mais uma pastinha,
Daí a pouco já vinha:
“Calma, garotinho, acalme!
Tudo agora vai dar certo,
Viu? Não chore, fique quieto”,
Ê, cacete de alicate!

Ele torcia o dente,
Eu, “ai, ai, ai, ai, ai, ai!...”
Mãe disse: “Ele arranca já!
Aí nóis pra casa vai.”
Árri, *Antônio de Bebé!
Feito um bode a chorar: bééé...
Eu quase tive um enfarte.
Era o dente véi doendo,
E ele cada vez moendo,
Ê, cacete de alicate!

E, por fim, puxou com força,
Quase pro queixo laxar;
Dei um tapa no alicate
P’ele parar de puxar.
Ora, foi tão forte a dor,
Chega meu zói revirou,
Quase que tive um ataque;
Mas, até que finalmente,
Conseguiu tirar o dente.
Ê, cacete de alicate!

                                           10/03/2015
 *Dentista


Ê, CACETE DE “PISTOLA”!

A vacina de pistola...
Eita, bixiga temida!
N’era brincadeira, não;
Besta ferinha doída!
No meu tempo de criança,
Nenhuma ficava mansa
Quando chegava a hora;
Meu amigo, era isso!
Era cada reboliço...
Ê, cacete de pistola!

Picadinha da molesta,
Ai, que dorzinha fininha!
Apertado o seu gatilho,
Doi mais que a da seringa.
E me lembro muito bem
De alunos “feitos reféns”
Quando ela vinha pra escola:
Eita, Deus, que aperreio!
O negócio era bem feio;
Ê, cacete de pistola!

Tava nós tudo quietinho
Estudando ali na sala;
Quando chegava a vacina,
Nós já ficava sem fala.
Uns eram pegos à força
Pra ser levados pra “forca”,
Agora o rabinho entorta!
Cada um com medo estava
De levar uma espetada,
Ê, cacete de pistola!

Pra lá e pra cá corriam
Os colegas tudo doidos;
Pra fugir da espetada,
Cada qual bem mais medroso.
A picada... Eita, trépido
Como dum choque elétrico,
Como que ao braço tora!
A sala, desde o início,
Ficava feito um hospício;
Ê, cacete de pistola!

Uns tremiam, uns choravam
Todos de medo cagados;
A sala no alvoroço
Feito um curral de gado.
Professores consolavam
Aos alunos que choravam:
“Calma aí, rapaz! Não chora!
Peraí! ó, não se bole;
Deixa de você ser mole!”
Ê, cacete de pistola!

Aquela beliscadinha,
Minino, viu te dizer...
De cima a abaixo do braço,
Dorzinha fina a moer.
Todos de medo morriam,
Outros tentavam, corriam
Para o lado de fora.
Eu mesmo, pra me poupar,
Consegui sempre escapar.
Ê, cacete de pistola!

Força do ar como agulha
Fininha como alfinete,
Ê, beliscada do cão!
Era “tsit”... ê, cacete!
Todo o corpo balançava
Do tal choque que levava;
Quase que braço descola.
A molecada era mais
Forçada como animais;
Ê, cacete de pistola!

“Tia, num vô tumá, não!”
Era só o que se ouvia.
Dentro da sala de aula,
Meio escondido eu via.
Eita, funaré do diacho!
E pensei comigo: “Acho
Que vou escapar agora.”
Para fora eu corri,
E escapar eu consegui
Do cacete de pistola!

Uns se subiam em móveis,
Paredes ou, sei lá onde...
A vacina de pistola
Era tão temida, home!
Só de ouvir o “tsit”, ih, medo!
Lembro de todo chamego,
Fuzuê, pau quebra e rola.
Eita, “tsit” dolorido,
Picadinha do alarido,
Ê, cacete de pistola!

                                      22/04/2015

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